Por ordem do STF, polícias agem para acabar com arruaça de bolsonaristas em rodovias
02/11/2022
Após intimação da Suprema Corte, até o ministro da Justiça anunciou aumento do efetivo para reestabelecer a normalidade. Chefe do Executivo, Bolsonaro não se pronuncia desde o domingo permitindo a desordem
Mesmo após a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Morais, nesta segunda-feira (31), para que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) agisse para dispersar os atos de arruaça de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que contestam o resultado democrático das urnas e que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda há 260 pontos de bloqueios em rodovias em pelo menos 21 estados brasileiros.
Em nota, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL-CUT) contesta a afirmação de alguns manifestantes de que o movimento partiu de caminhoneiros e aponta que pode ter havido a participação de grupos que defendem intervenção militar, incitando eleitores mais exaltados a promoverem tais atos. É “falsa alegação de que a manifestação é dos caminhoneiros”, diz a entidade.
“Os caminhoneiros autônomos e celetistas são vítimas desses bloqueios, uma vez, que esses grupos contrataram fretes de caminhões caçambas com pedras e terras para dificultar a passagem nas rodovias, fato que se configura crime”, diz trecho da nota assinada pelo presidente da entidade, Paulo João Eustasia.
Em nota, CUT e centrais sindicais destacam que o movimento sindical não aceitará provocações e radicalismos e reforçam a importância do Congresso Nacional e do STF na busca de soluções republicanas.
Silêncio e desordem
A desordem nas estradas ocorre paralelamente ao silêncio sepulcral de Bolsonaro, primeiro presidente derrotado a não se pronunciar logo após o resultado do pleito, desde 1989, quando foram realizadas as primeiras eleições após a ditadura militar (1964-1985).
A dura e firme decisão do STF contra a baderna
A decisão de Moraes sobre os atos ilegais nas estradas foi referendada pelos demais ministros da Corte, em sessão virtual na madrugada desta terça-feira (1°). Acompanharam a decisão os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Rosa Weber e Dias Toffoli, formando maioria.
Além de ordenar à PRF e polícias militares “para que tomem as medidas necessárias e suficientes”, Moraes intimou o diretor-geral da PRF, o bolsonarista Silvinei Vasques, a agir, sob pena de multa de R$ 100 mil por hora, em caráter pessoal, e de ser afastado de suas funções, até de ser preso em flagrante, por crime de desobediência, “em face da apontada omissão e inércia da PRF”, Moraes também intimou diversas autoridades a tomarem providências.
Ainda nesta segunda-feira, o ministro da Justiça, Anderson Torres, determinou o reforço do efetivo de policiais federais para normalizar o trânsito nas rodovias. Pelas redes sociais, na manhã desta terça, o ministro informou que a PRF segue atuando “ininterruptamente no desbloqueio de estradas”.
O Ministério Público Federal (MPF) também pediu explicações à PRF sobre providências adotadas para manter o fluxo nas rodovias. A subprocuradora da República Elizeta de Paiva Ramos pediu que a corporação também informe a relação completa de trechos bloqueados.
Ação
Em São Paulo, o governador Rodrigo Garcia (PSDB), em entrevista à imprensa, afirmou que, no estado, o uso da força será aplicado, se necessário. Durante coletiva na manhã desta terça, ele afirmou que a fase de diálogo foi encerrada e a PM fará intervenções efetuando até prisões, se necessário.
“Agora pela manhã, em virtude da decisão do STF, as negociações se encerraram e, a partir de agora, nós vamos aplicar o que determina a decisão judicial, iniciando com multas de R$ 100 mil por hora para cada veículo que esteja contribuindo com a obstrução, a partir daí fichando e eventualmente prendendo aqueles manifestantes que, porventura, resistirem a desobstruir as vias e, se necessário, o emprego de uso de força”, disse o governador.
Garcia ainda reforçou, na contramão do que incitam os arruaceiros que insistem em contestar as urnas, que a democracia será respeitada no estado. “As eleições acabaram, nós vivemos em um país democrático, São Paulo respeita o resultado das urnas e nenhuma manifestação vai fazer com que a democracia do Brasil retroceda (...) Aos vencedores, o mandato; aos perdedores, o reconhecimento da derrota”, disse.
Ainda em São Paulo, bloqueios no acesso ao Aeroporto Internacional, em Guarulhos, chegaram a provocar cancelamento de voos, mas o local já foi liberado. As cenas registradas nas redes sociais mostraram passageiros tendo de seguir até o terminal a pé.
A dispersão no local ocorreu após a PRF ter de usar spray de pimenta nos manifestantes.
Revolta
Em vários locais a população, sentindo-se ferida em seu direito de ir e vir, já tem se rebelado contra os fascistas. Em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, metalúrgicos se expuseram ao risco de violência dos bolsonaristas para desbloquear a via. Um ônibus dos trabalhadores chegou a a ser atacado com pedras.
Atos ilegais
O movimento dos apoiadores de Bolsonaro começou por volta das 19h de domingo, logo após o TSE proclamar a eleição de Lula como novo presidente da República. Orquestrado, a baderna teve início em regiões onde o atual presidente teve maioria dos votos, como o estado de Santa Catarina. Um dos protestos foi feito em frente a uma unidade das Lojas Havan, de propriedade de Luciano Hang, apoiador de Bolsonaro.
Um dos caminhões da Havan, que participava da balburdia, chegou a ficar preso no desnível da pista ao tentar bloquear a via, em Santa Rita, no Rio Grande do Sul.
Um levantamento feito pelo PortalCUT com os dados das cerca de 500 denúncias de assédio eleitoral no período pré-eleições mostra uma coincidência entre os locais onde mais houve bloqueios e a maioria das regiões onde houve ocorrências de assédio. São as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Prejuízos à sociedade
Nesta segunda-feira, empresas de transportes rodoviários chegaram a cancelar horários por causa dos bloqueios. A Via Dutra, principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro também registrou bloqueios que atrasaram em mais de 10 horas as viagens dos ônibus. Muitas famílias ficaram mais de 15 horas paradas nas estradas, sem comida e sem água.
O setor empresarial que, em parte, apoiou o atual presidente, já começa a amargar prejuízos pelos protestos. Atrasos em entregas de produtos, no abastecimento de alimentos e de combustíveis já prejudicam operações.
Em várias cidades do Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e no interior de São Paulo como Sorocaba e Ribeirão Preto foram registradas filas em postos de combustíveis porque os trabalhadores que temem o desabastecimento.
Fonte: CUT